Falemos agora do Transtorno do Espectro Florestino (TEF). Ficaremos hoje pelo primeiro sinal que é o não terem uma sensibilidade (sensorialidade) muito apurada.

As florestinas e o florestinos encharcam-se de perfume, carregam cores vistosas nos lábios e nas faces, podam artificiosamente as pilosidades da cabeça e do corpo de modo a parecerem jardins de buxo neo-clássicos, experimentam vestir-se de maneiras diferentes, quer no talhe, quer no comprimento, quer nas cores e nos padrões. O corpo de um florestino é um objecto público destinado a atrair, seduzir, fazer-se notado, numa sociedade em que o valor da vida se mede pela notoriedade. Como nas manadas, são apostas ao corpo marcas como tatuagens e piercings: o corpo não se queixa e a sociedade Big Brother assim o obriga. A moda e a publicidade são fenómenos tipicamente florestinos. De uma sensibilidade pouco apurada resulta uma memória efémera. Daí a insistente necessidade de mudar e comunicar. A vida de um florestino é uma permanente tagarelagem, um constante rodopio, uma viagem incessante. A natureza é que as paga mas essa contabilidade ainda não está feita.

As florestinas e o florestinos encharcam-se de álcool e outras substâncias que alteram os estados mentais. Embora alguns se vejam forçados a estimularem-se em privado, a maioria prefere fazê-lo em festas ruidosas apinhadas de gente. Ninguém ouve ninguém, tal é o alarido e a sonoridade metálica do ambiente. Tudo é oportunidade para festejos e comezainas: aniversários, baptizados, casamentos, funerais, festas religiosas e civis, férias, fins de semana, noitadas.

Têm uma particular necessidade de estimulação luminosa, daí procurarem ambientes escaldantes e de elevada luminosidade como as praias, de preferência a sul. Com um limiar de estimulação muito elevado, não lhes incomoda calcarem seixos ou sentir a areia a entranhar-se nos dedos dos pés. Para tornar a noite ou a escuridão iguais ao dia, e prolongar a sua quase desesperada necessidade de estimulação, sobrecarregam os ambientes de iluminação artificial que não os incomoda, nem provoca tonturas, vertigens ou enjoos. São adeptos ferverosos do cinema, da televisão, dos ecrãs de computador, dos tablets e dos smartphones, já para não falar dos pequenos ecrãs embutidos em tudo o que é aparelhagem doméstica, automóveis, caixas bancárias automáticas, máquinas de vending e reclames.

A pele de um florestino não difere muito de uma gabardina ou de um capote da tropa. É tão pouco sensível que precisa de estar constantemente a ser estimulada por carícias e afagos, motivo para juntar dois ou mais florestinos em rituais erógenos. Quando a necessidade aumenta, o florestino afaga-se sozinho. A propósito de vestuário, qualquer tecido lhe serve e não distinguem a aspereza da lã da subtileza da seda. As etiquetas não a incomendam. Ele nem as sente. 

Parece que a vida nesta terra não lhes chega, que já não há mais nada para mudar ou mais sítios para onde se mudar, e que decidiram viajar para lugares virtuais. E fazem-no a expensas da internet vivendo em sites manhosos e nas redes virtuais. A vida de um florestino nas redes virtuais é uma permanente tagarelagem, um constante rodopio, uma viagem incessante. A realidade natural é ultrapassada pela virtualidade e esquecida. Daí que quando o florestino olha para as árvores não as veja. A sua visão apenas lhe devolve uma mácula verde-leitosa que ele chama de floresta.

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