Em contrapartida, o Transtorno do Espectro Arborino (TEA) apresenta uma extra-sensibilidade (sensorialidade) apurada em excesso.

As arborinas e os arborinos incomodam-se com os ambientes carregados de odores de qualquer tipo, abstêm-se geralmente de qualquer tipo de decoração facial ou capilar, tendem a desmazelar o cabelo e as outras pilosidades corporais, vestem-se de maneira descuidada e simplificada, indiferentes ao talhe, ao comprimento, às cores e aos padrões, mas não indiferente às texturas. O corpo de um florestino é um objecto recatado, preservado do olhar dos outros e indiferente à pressão dos códigos sociais e aos ditames da moda. De uma sensibilidade muito apurada, em que quelquer excesso lhes pode provocar desconforto e dor física, resulta uma memória duradoira. Esta memória dilatada promove um sentimento de urgência e medidas para protecção das ameaças. Daí a insistente necessidade de preservar nos hábitos e criar defesas face à sobreestimulação ambiental, particularmente a de natureza social. A vida de uma arborina é uma procura permanente de silêncio, de odores ténues e de texturas suavizadas, uma atenção permanente ao detalhe, uma constante e metódica repetição de gestos. Tem por ideal a vida monástica e por refúgio a natureza.

Os arborinos e as arborinas, embora possam também ceder ao uso de bebidas alcoólicas ou de outras substâncias capazes de alterar os estados mentais, receiam experimentá-los e, se o fazem, evitam que tal ocorra em ambientes de socialização, evitando participar em festas apinhadas de gente, ruidosas, cintilantes e cheias de odores corporais. O alarido e a sonoridade elevada do ambiente incomoda fisicamente o arborino de impede-o de se concentrar na interacção com os outros. Se puder escapar, a arborina vai tentar subtrair a sua presença em aniversários, baptizados, casamentos, funerais, festas religiosas e civis, férias, fins de semana, noitadas. Com um baixo limiar de estimulação, incomoda-lhes calcar seixos ou sentir a areia a entranhar-se nos dedos dos pés, razão por que evitam a praia, sobretudo às horas de sol. A noite ou os lugares sombreados, ou pouco iluminados, garantem a protecção dos excessos luminosos, sobretudo da  iluminação artificial que os incomoda, lhes provoca tonturas, vertigens ou enjoos. Acampar e pernoitar na floresta ou na montanha são ocupações predilectas dos arborinos.

 

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A pele de uma arborina reage com desconforto ao excesso de estimulação por carícias e afagos e aos abraços efusivos, evitando-os com rudeza quando se sente ameaçada. O arborino pode aparentar ser insensível às abordagens eróticas, mas fica magoado quando acha que o seu comportamento é mal interpretado. Não é só ao toque do outro que rege defensivamente. O vestuário e a roupa da cama têm que ser rigorosamente seleccionados, pois não lhe serve qualquer tecido, dependendo da textura, do peso e da reação epidérmica que lhe causa. Incomodam-lhe as etiquetas da roupa, que ele elimina antes de vestir pela primeira vez.

A vida é para ser vivida na materialidade desta terra e no lugar onde se está e que se aprendeu e continua a aprender com esforço a conhecer as ameaças e os refúgios. As viagens e mudanças são desnecessárias e incómodas. O arborino não percorre os caminhos que cruzam a floresta nem a contorna para a conhecer enquanto tal. Está familiarizado com cada árvore ou arbusto do lugar que habita. A floresta é algo em que se entra e a pessoa se perde nas veredas que vão dar a parte nenhuma.

 

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