Tenho um quadro a giz num lugar a que chamo a minha cabeça. Não é bem "na cabeça", é num lugar atrás da nuca não sei bem a que distância, onde eu rascunho os meus pensamentos e guardo os meus apontamentos da escrita que nunca farei. É um quadro a giz embora não seja bem quadro nem tenha giz. É uma maneira de falar para dizer que vou escrevendo coisas por cima de coisas. Se escorrego e roço com o braço no quadro que tenho na cabeça, lá se vai o registo de um pensamento, de um modo de sentir ou de um dado preciso referente a qualquer coisa que já foi importante - um número de telefone, uma senha informática, o título de um livro, uma data, o comprimento de qualquer coisa que deverei comprar à medida, a referência de um produto. 

Isso é assim quase todo o ano. Mas há dias em que não. O lugar do quadro a giz transforma-se num cubículo de projecção de filmes mudos. Não são bem filmes, mas colecções de restos de película colados uns aos outros à toa. São mudos de palavras, sejam elas apenas faladas ou escritas como nas legendas. Não lhes presto muita atenção. Se me refugio nesse canto da cabeça é porque está tudo às escuras e não entra lá o ar de Agosto.

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