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No amaranhado de pilhas de papéis que o Rodrigo deixou no Tremontelo espalhados por toda a parte, mesmo agora catei um, escrito no habitual estilo sincrético e provisório, e grafia estenográfica, a que tentarei dar-lhe versão final, procurando, não um, mas os vários sentidos que o Perdido almejava para cada um dos seus escritos ... se a tanto me ajudar o engenho e a arte.

Começa assim: "o diabo criou o mundo e deus vai engoli-lo".

Começarei por tentar elucidar o que é deus e o que é o diabo na acepção que Rodrigo lhes dá.

Escreveu o Rodrigo um texto elucidativo intitulado "Demónios e diabos". Se bem entendi o texto, lembrando as conversas intermináveis com o Rod, noite fora nesse louco ano de 2006, o diabo é um demónio dissociador, multiplicador, oposto a deus (unum deum, no Símbolo de Niceia), o demónio integrador, unificador., o símbolo.

O diabo é o grande artista do universo, o criador de mundos, que separa as partes misturadas e as dispõe na harmonia. É os "Elohim" do Génesis criador da Natureza e do Homem. Noutro texto, intitulado "En arkhê en o Logos", o Rod explicita que Foi Lúcifer, o portador da Luz, o que separa a luz das trevas. E foi o Demiurgo, o representante do seu povo, o poderoso artífice manual ...Por conseguinte, o Diabo é, não só o grande organizador do mundo, o Criador, como o artífice do homem que soube moldar do barro (que excelente metáfora da evolução do sapiens desde a sopa primitiva!), a quem confia o mister de guardar e cuidar o "jardim" do Éden. De acordo com o princípio da multiplicidade, Lúcifer criou o homem como um ser múltiplo, à sua imagem e semelhança, como homem e mulher. Mas o diabo é ainda o tentador, que leva os homens a querer serem como deuses, e o filho unigénito de deus que quer ser como os homens. O diabo é diá-bolo.

Deus representa a proibição e a punição, a congregação de todos os poderes num lugar único, entidade narcisista (o princípio e o fim, o alfa e o omega), ciumento, rancoroso e com mau feitio. Deus é sím-bolo.

Noutro texto, A tentação, diábolo e símbolo são irmãos: um, unificador (conceito); o outro, o tentador, o separador. Uma contradição do Rodrigo? Ou, antes, um novo aspecto, uma nova faceta do universo multifacetado dos demónios? Voltarei a esta questão numa próxima oportunidade. Entretanto, irei continuar a vasculhar na papelada.


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